Lula confirmou promessas de campanha, no que diz respeito principalmente ao resgate de agendas socais importantes, com prioridade para o combate à fome. E reafirmou nos dois discursos oficiais do dia, sua luta pela união nacional, reforçando o conceito de que não existem dois Brasis, mas um só e é para este um só, de mais de 200 milhões de cidadãos e cidadãs, que ele promete governar. A passagem da faixa feita por uma catadora de recicláveis e ao lado de outras pessoas do povo, aí incluindo o cacique Raoni, foi o momento mais emblemático da posse do presidente e vice eleitos em 30 de outubro.
Mas falar do domingo apoteótico que foi este primeiro de janeiro em Brasília é chover no molhado. É chover no molhado também falar da ausência do presidente Bolsonaro, que fugiu à tradição republicana de passar a faixa de maneira civilizada e protocolar ao sucessor. Enfim, Bolsonaro perdeu uma grande oportunidade de deixar a presidência com um mínimo de dignidade.
Mas o fim do governo dele não deve ser analisado assim de maneira tão simplista. Começa pela certeza de que Jair Messias Bolsonaro não é a causa dos males do país, mas é um sintoma que não pode ser desprezado. Um grave sintoma, diga-se de passagem. O período 2019-2022 precisa ser investigado à fundo, porque é visível a olho nu o deterioração do quadro institucional.
Conviver com os resquícios deixados sem passar o país a limpo, é permitir que o ovo da serpente continue a ser galado, para romper a casca daqui quatro anos. Uma coisa Bolsonaro ensinou ao país: condescender com o fascismo é tão perigoso quanto acostumar nossos ouvidos ao tic-tac de uma bomba relógio.