O grande Frei Beto chama a atenção para a crônica anunciada de uma tragédia que nos espreita, sem que nos demos conta de suas consequências. Na verdade, não é um alerta direto, mas uma observação preocupante. Trata-se da composição das plateias que tem assistido palestras e debates sobre o Brasil do futuro, com questionamentos duros sobre a realidade atual, de ascensão da direita e encolhimento dos setores progressistas no país.
Perto de fazer 80 anos, o frei dominicano, um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros da atualidade, diz que os auditórios das boas palestras e dos bons debates sobre política estão sempre cheios de pessoas de cabelos brancos ou pintados. Faltam jovens no pedaço, o que é preocupante e o remete à reflexão que Belchior nos leva a fazer na canção “Como Nossos Pais”. Frei Beto lembra o verso cortante do saudoso poeta nordestino, cantado magistralmente por ele e por Elis Regina:
“Minha dor é perceber / que apesar de termos feito / tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos (…) como os nossos pais”. “Nossos ídolos ainda são os mesmos”. E não vemos que “o novo sempre vem”.