Pintadas, onde o relógio caminha lento

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Pintadas está no poema de Carlos Drumont sobre o tempo e sopra a orelha do calendário  no embalo da teoria da relatividade, porque  Einstein também não era de ferro. A cidade do meu tempo de menino era mais pacata, época em que o trânsito fluía bem , mas só com  cavalos e jegues nas ruas. Hoje tem momentos de estresse, com carros top e motos para todos os gostos e bolsos. Sinal do progresso,  ora veja. Progresso que deu as caras naquela bela cidade do Vale do Jacuípe, mas sempre respeitando  o espírito pacato , pacífico e calmo do seu povo. Um povo  que conta as horas e aprecia o caminhar lento do relógio. Em Pintadas o tempo não pára, mas às vezes parece parar no passo lento dos pioneiros e na fala mansa das mulheres e dos homens de meia idade.

Lá no meu torrão natal, onde estive por duas semanas para matar saudades de tios, primos e primas, que representam pelo menos 50% da população, o Sol se põe cedo e começa a emitir seus raios com o cantar do galo. Entrei no clima, cantando Renato Teixeira e Almir Sater, porque se o tempo é manhoso, dei um jeito de andar devagar, porque já tive pressa.

A calmaria que reina em Pintadas, outrora desconhecida mas hoje já merecendo grifo no mapa da Bahia, é típica de qualquer cidade do interior do Nordeste. Pra mim, porém, Pintadas é especial ,  faz parte da minha história, sendo portanto, responsável pela ativação, quase que permanente, da minha memória afetiva. Já estive lá outras vezes, mas desta feita  me surpreendi com o detalhamento que tio Daniel Mendes e irmã Velzi, me fizeram do Projeto Pintadas. Consistiu basicamente na implementação de um programa de construção de represas, cisternas e produção de silagens e feno, para alimentação de ovinos , caprinos e equinos em tempos de estiagem prolongada.  Assim, fica menos traumática a travessia dos longos períodos de seca.

Ah, pra não dizer que não falei das flores, o que me deixa ainda mais orgulhoso é saber que Pintadas é intensa nas atividades  culturais e tem uma juventude conectada com o mundo acadêmico. Hoje, é uma cidade de vários doutores, motivo de orgulho de muitos pais que não puderam estudar e agora  veem seus filhos serem graduados e pós-graduados em centros como Feira de Santana e Salvador. Por lá já passaram e passam políticos de grande projeção na Bahia e artistas consagrados, como é o caso de Chico Cesar e foi um dia, o de Zé Geraldo e Belchior.

Omi, seu minino, se Drumont se orgulhava da sua Itabira; se Ziraldo enchia a boca para falar de  Caratinga e Milton Santos exaltava sua  Brotas de Macaúbas, porque este modesto escriba não deveria estufar o peito  para dizer: SOU BAIANO DE PINTADAS, OXENTI !

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