Vi a entrevista do presidente Lula no programa de rádio do Mário Kertz, ex-prefeito de Salvador. Na verdade, um bate-papo, em que o presidente conta sua história e fala da sua obsessão em erradicar a fome no Brasil, que é absolutamente sincera. Relembrou perrengues da infância e da juventude , quando chegou a morar numa casa que em dia de chuva molhava mais dentro do que fora. Quem viveu situações semelhantes sabe do que Lula estava falando. Foi o meu caso, tempos difíceis que relato no meu livro de memórias Orelha de Jegue. Livro que aliás, chegou às mãos do presidente.
O feitiço vira contra o feiticeiro
A revelação de que o Ministério Público Federal criou na Lava Jato um sistema clandestino de compartilhamento de informações sigilosas apressa a ida da operação comandada por Deltan Dallagnol e Sérgio Moro para o lixo da história. O resultado prático das revelações será o possível cancelamento das delações premiadas, como por exemplo, a do empreiteiro Leo Pinheiro, que serviu de base para que Lula fosse tragado por um triplex e mantido inelegível apesar da inconsistência das provas. Sérgio Moro, o todo poderoso da operação, tirou Lula da disputa em 2018 e depois foi ser ministro de Bolsonaro. Lawfare puro.
Para Boulos, sem luz no fim do túnel
O apagão que deixou São Paulo vários dias sem energia elétrica é atribuído à inoperância do prefeito Ricardo Nunes, principalmente no que diz respeito à poda de árvores. Mas esse fato não parece ter interferido na campanha de segundo turno onde Nunes ultrapassa a barreira dos 50% contra Guilherme Boulos que tem 33% das intenções de voto. Vá entender a cabeça do eleitor!
Disputa acirrada em Camaçari
A disputa entre o candidato do Uniao Brasil e do PT em Camaçari, não região metropolitana de Salvador está mais apertada do que gogó de ema. Pesquisa divulgada terça-feira mostra Flávio Matos (União Brasil) com 50,8 % e Luiz Caetano (PT) com 49,2%. Lula e o governador Jerônimo estarão hoje em Camaçari, de onde ACM Neto e as principais lideranças da direita baiana não arredam pé. O jogo é duro e é jogado e num quadro como esse, nenhuma pessoa, por mais neutra que seja, jogaria suas fichas em A ou em B. Eu, cá a distância, sendo de esquerda porém não petista, tenho o lado afetivo para além da questão ideológica em relação a esse pleito. Flávio é casado com minha sobrinha e afilhada Salma, por quem eu tenho um carinho enorme, do tamanho de Pintadas. Eu torcer por Flávio não faz a menor diferença , a não ser as críticas da patrulha ideológica, que sinceramente, não me incomoda nem um pouco.
A direita se estapeia no Paraná
Ney Leprevost aceitou engoliu Rosângela Moro como sua vice, ancorado na ilusão de que o senador e ex-juiz Sérgio Moro turbinaria sua camoanha a prefeito de Curitiba. Teve no primeiro turno uma votação ridícula . Ora 6,5% pra quem achava que iria bombar é nada. Hoje , Leprevost está convencido que Moro não agrega, só atrapalha. A direita paranaense está de cara com o conge e a conja.
Aliás, Leprevost e Sérgio Moro antam se arranhando em praça pública na capital paranaense. Em resposta a um ataque de Moro, Ney Leprevost emitiu nota, detonando o ex-aliado:
“Em resposta aos ataques rasteiros e injustificados proferidos contra mim, e sem o menor cabimento também a familiar meu, pelo senhor Sérgio Moro , tenho a declarar, após buscar informações com diversas fontes jornalísticas e rememorar fatos, conclui que:
– Este senhor é um traidor contumaz.
– Traiu a magistratura utilizando-se dela para se promover pessoalmente com objetivo de conquistar cargo político.
– Traiu as Leis que jurou cumprir ao realizar tortura psicológica em réus e escutas telefônicas de legalidade questionável.
– Traiu as milhares de pessoas que saíram às ruas para apoiar a operação Lava Jato, abandonando sua função de juiz para ser ministro.
Traiu o partido Podemos que o sustentou financeiramente.
– Traiu o povo do Paraná ao tentar ser candidato a senador pelo estado de São Paulo, onde foi rejeitado pelo Tribunal Eleitoral.
– Traiu seu padrinho político, o senador Álvaro Dias, lançando- se candidato de última hora contra ele.
Diferenças fundamentais
Em geral, um esquerdista vê o pobre, favelado ou morador de rua, de maneira mais humana, mais solidária. Não tem como ele resolver o problema daqueles excluídos do capital, mas ele sente a dor do seu semelhante e luta, com a arma que possui, que é sua concepção de vida, para melhorar o conjunto da sociedade, sobretudo no espaço geográfico onde habita. Ele até presta o socorro emergencial a uma pessoa que esteja em dificuldade extrema mas a sua bandeira é a da partilha, da distribuição de renda, da qualificação profissional, do combate a exclusão.
Quanto ao direitista, ele pensa exatamente o contrário. Acha, a grosso modo que, quem está vivendo na rua é porque não tem coragem de trabalhar, ou se tem, não procurou se qualificar para o mercado de trabalho. Numa visão que considera generosa, mas é turbinada pela hipocrisia, costuma chamar os miseráveis de abandonados pela sorte. Prefiro ficar com a definição do Papa Francisco, que diz: “A pobreza não é fruto do destino, é consequência do egoísmo”. Para o egoísta, se reconciliar com sua consciência é dar esmola. Partilha, distribuição de renda e governar para os pobres, é coisa de comunista, é algo que lhe provoca urticária.
Conselho de pai
“Meu pai dizia que a máquina do estado é pra moer pros graúdos e a gente tinha o dever de mudar essa lógica, fazer com que nosso trabalho é botar essa máquina pra moer todo dia para o pequenininho, pra quem realmente precisa”.
. João Campos, prefeito do Recife, reeleito com 78%
A nova cara da esquerda
O grande jornalista Ricardo Kotscho tem a percepção de que o casal de namorados João Campos e Tabata Amaral representam a nova cara da esquerda brasileira. Ela fez bonito papel no primeiro turno das eleições de São Paulo e Campos, bisneto do lendário Miguel Arraes, se reelegeu prefeito de Recife com uma votação consagradora.
O PT, na sua hora da verdade
O PT procura um discurso para reconquistar o seu eleitorado tradicional, os trabalhadores. Pode ser que encontre em algumas capitais onde disputa o segundo turno e em Camaçari (Bahia), onde o presidente Lula e o governador Jerônimo são aguardados por Caetano para encarar Flávio Matos (União Brasil) e seu grande cabo eleitoral, ACM Neto.
Escrevendo aqui da Zona 7, na 3a. maior cidade paranaense, onde o clã Barros deitou e rolou com o discurso “encantador de serpente” de Silvio, do PP, ora direi: o PT foi um rio que passou pela vida de Maringá, mas cujo coração não se deixou levar.
Então, que assim seja
A candidata Cristina Graeml (PMB), que surpreendeu todos os analistas ao ir para o segundo turno em Curitiba está sendo acusada de montar seu programa de governo através da inteligência artificial. Os indícios são de que 88% do plano não foi escrito por uma pessoa. Só lembrando que Cristina, que foi colunista política da Gazeta do Povo e mais lá atrás, repórter da RPC, estava na Jovem Pan, onde chegou a atribuir as mortes de dois adolescentes que estavam imunizados à vacina contra a Covid.
O que resta então ao eleitor da capital paranaense? Eduardo Pimentel, neto do ex-governador Paulo Pimentel é um jovem, igualmente direitista, mas certamente menos extremista que sua oponente. Até porque se fosse mais, ou mesmo tal e qual, seria o fim da linha para o conservadorismo curitibano. Mas tudo bem, o eleitorado decidiu assim. E, considerando que cada povo tem o governo que merece, que assim seja