Nada esconde mais a hipocrisia do conservadorismo brasileiro do que a discussão sobe o aborto. O seguinte é este: mulher pobre, da periferia , é sujeita a humilhações quando se vê obrigada a recorrer ao dispositivo constitucional, que permite o aborto em casos de estupro, risco de vida para a gestante e possibilidade real te ter uma criança anencéfala. Mas o aborto ocorre sem problemas entre mulheres ricas, que podem pagar boas clínicas e garantir o sigilo de sua decisão.
Fiquei pasmo quando vi a cena protagonizada pelos senadores Eduardo Girão e Damaris Alves, que numa audiência pública agrediram o decoro parlamentar e de forma afrontosa, tentaram entregar ao ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, a réplica de um feto com 11 meses de gestação. Aquilo foi um escárnio , foi sim, a expressão pura e acabada da hipocrisia nacional que domina a narrativa de criminalização do aborto enquanto política de saúde pública. Reduzir um problema de tamanha gravidade a uma pauta moralista e calhorda como esta é tudo o que o Brasil não precisa na atual circunstância.








