Numa tarde qualquer da primeira semana de janeiro ouvi uma moradora do prédio onde resido conversando com alguém ao telefone sobre a expectativa de ver Lula deposto e Bolsonaro voltando ao poder. Percebi que ela se alegrou quando o interlocutor disse: “Fique tranquila que coisa boa vai acontecer domingo”. E ela: “Deus te ouça ”.
Agora, com o avanço das investigações e provas concretas de que o ex-presidente liderava o movimento que culminaria no 8 de janeiro, me dei conta de que os milhões de bolsonaristas no Brasil inteiro não tinham dúvida de que o quebra-quebra nas sedes dos três poderes marcaria o coroamento do golpe de estado, com a chamada “Festa da Selma” . E tudo terminaria em prisões e mortes. Entre os presos estaria Lula, já empossado presidente, e entre os mortos, o ministro do STF Alexandre de Moraes. E não tenham duvida: o andar da carruagem iria estimular muitos bolsonaristas radicais a saírem cometendo crimes pelos quatro cantos do país. Triste e chocante pensar desse jeito, mas que muitos brasileiros inocentes iriam morrer, só por serem identificados como de esquerda, isso iria mesmo. Mas Deus teve piedade do nosso país.
Não deu certo, não apenas por causa do racha dentro das três armas , entre legalistas e golpistas, mas principalmente graças a solidez surpreendente da nossa democracia, que balançou sim, mas não caiu. Por tudo isso, até como forma de evitar que a ultradireita volte a se assanhar, é que as instituições precisam dar nova demonstração de força , prendendo não somente coadjuvantes, mas os atores principais dessa comedia pastelão, a começar pelo canastrão mor.