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Cadê os jovens ?

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O grande Frei Beto chama a atenção para a crônica anunciada de uma tragédia que nos espreita, sem que nos demos conta de suas consequências. Na verdade, não é um alerta direto, mas uma observação preocupante. Trata-se da composição das plateias que tem assistido palestras e debates sobre o Brasil do futuro, com questionamentos duros sobre a realidade atual, de ascensão da direita e encolhimento dos setores progressistas no país.

Perto de fazer 80 anos, o frei dominicano, um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros da atualidade, diz que os auditórios das boas palestras e dos bons debates sobre política estão sempre cheios de pessoas de cabelos brancos ou pintados. Faltam jovens no pedaço, o que é preocupante e o remete à reflexão que Belchior nos leva a fazer na canção “Como Nossos Pais”. Frei Beto lembra o verso cortante do saudoso poeta nordestino, cantado magistralmente por ele e por Elis Regina:

“Minha dor é perceber / que apesar de termos feito / tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos (…) como os nossos pais”. “Nossos ídolos ainda são os mesmos”. E não vemos que “o novo sempre vem”.

A cutucada

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A direção da Itaipu Binacional, presidida pelo maringaense Ênio Verri, manda dizer a Ratinho Júnior que o dinheiro para a duplicação da Rodovia das Cataratas está disponível e cabe ao Governo do Paraná executar o projeto. Para cutucar o ocupante do Palácio Iguaçu, a empresa informa em nota que “ 100% dos recursos necessários para a duplicação da BR-469, conhecida como Rodovia das Cataratas, estão liberados e disponíveis para execução das obras, conforme termos do convênio assinado entre a Itaipu, o DNIT e o governo do Estado”. E mais: “Os atrasos decorrentes de qualquer natureza da obra não são de responsabilidade da usina”.

Mantida a proibição do “pito da morte”

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Sempre que vejo uma pessoa sugando fumaça num cigarro eletrônico fico pasmo. Como pode alguém entrar nesse processo de suicídio programado, sem se dar conta do perigo? Até os pernilongos da Borracharia do Chico Carpideiro sabem que o cigarro eletrônico é uma espécie de auto envenenamento.  Não por outro motivo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mais conhecida como Anvisa, mantém a proibição do chamado tabaco aquecido. Poucos países do mundo liberam o cigarro eletrônico, chamado de bomba relógio por pneumologistas.

A Lava Jato foi buscar lã e acabou tosquiada

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Um acordo de leniência assinado pela Petrobras com o Departamento de Justiça americano implicou no pagamento pela estatal brasileira de mais de R$ 5 bilhões. E embutido no acordo, o compromisso dos americanos era de enviar R$ 2,5 bilhões para “autoridades brasileiras”, sem no entanto especificar que autoridades seriam essas. A grana caiu nas mãos do Ministério Público Federal, diretamente numa conta gerida pelos procuradores da Lava Jato. Essa montanha de dinheiro, que deveria ter sido entregue aos cofres da União, foi parar numa conta do MP na Caixa Econômica e de lá migraria para uma fundação privada, provavelmente presidida por um dos procuradores da Lava Jato, então liderados por Deltan Dallagnol, que virou deputado federal e teve seu mandato cassado pelo TSE.

Pois esse escândalo foi levantado pelo ministro do STJ Luís Felipe Salomão, que atuou como corregedor do Conselho Nacional de Justiça ao esmiuçar os descaminhos trilhados pela República de Curitiba, comandada pelo juiz Sérgio Moro. O caso é complicado, mas Salomão decidiu destrinchá-lo, começando por afastar alguns envolvidos, como a juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro na 13ª. Vara Federal de Curitiba e homologou o acordo hora sob investigação.

Ocorre que o pleno do CNJ suspendeu a suspensão temporária da juíza e manteve fora da magistratura dois desembargadores do TRF4, por fazerem vistas grossas ao processo de criação do tal fundo privado. A coisa está caminhando e pelo andar da carruagem, pode complicar a vida dos atores da Lava Jato, que surgiu inspirada pela Operação Mãos Limpas da Itália e a pretexto de combater a corrupção no Brasil, acabou na lama.

Uma reflexão necessária

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Existem dois tipos de guerra: a que sangra e mata e a que mata sem violência física, mas com a destruição de reputações. E o curioso é que os que fomentam essa última e se colocam na linha de frente para ficar na história como heróis acabam não levando os benefícios que acharam ter conquistado. Quem ganha são os oportunistas, que surfam sobre o caos e pousam como salvadores da pátria, como os seres que vão resgatar a autoestima e a dignidade de um povo destroçado pela crise previamente fabricada.

Quem faz esta importante reflexão, é o ex-deputado José Genoíno, que foi preso e torturado na ditadura militar e na democracia, foi enxovalhado (e também preso) pela máquina de moer biografias, acionada pelo que se convencionou chamar de mensalão, engendrado   a partir de uma delação premiada do desqualificado Roberto Jeferson. Para Genuíno, o objetivo inicial era evitar a consolidação no poder de um projeto político voltado a pautas sociais e à inclusão dos pobres no orçamento da União.

Não satisfeitos por não terem quebrado as pernas do líder desse projeto na época, deram um jeito de tirar Lula de cena anos depois com a Lava Jato, cujos atores estão agora às voltas com cassação de mandatos e na mira da Justiça, a mesma que encarnavam naquele momento de espetacularização do lawfare. Não conseguiram, porque mesmo engaiolando Lula por 580 dias , ele acabou voltando para o seu terceiro mandado na presidência da república. Desse processo fica a lição de que a esquerda ainda não parece ter aprendido: a sanha golpista continua ativa  e ameaçando a democracia brasileira, dia sim e dia também. É preciso reagir aos espasmos bolsonaristas com inteligência.

O que é um poeta?

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Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

. Otto Lara Resende

Nunes Marques vem aí

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O ministro do STF Nunes Marques , indicado por Bolsonaro, deve receber o título de cidadão honorário do Paraná. Depois de tirar a tornozeleira de um dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro, ele poderá se deparar aqui com uma enorme fila de “pombos-correio’ querendo se livrar do adereço eletrônico.

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As instituições brasileiras reagem

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Elon Musk, o míster da X, anda metendo os pés pelas mãos e suas leviandades contra a mais alta corte de justiça do Brasil pode lhe custar uma grana arretada. A Defensoria Pública da União entrou com ação judicial pedindo  R$ 1 bilhão de danos morais, por ele ter atentado contra a democracia brasileira.  Talvez um bi nem faça cócegas no seu bolso, mas será um belo recado para a ultradireita brasileira que anda tendo orgasmo com a briga do bilionário com o ministro Alexandre Moraes.

Que a língua de porco volte à feijoada…

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O jornalista  e compositor Carlos Castelo, que se diz mais ortodoxo do que elixir paregórico, traz à discussão, em artigo publicado no Estadão , um tema relevante: o desaparecimento da língua de porco da feijoada. “ Nunca concordarei com a ideia de uma feijoada incompleta. Ou vem com todos os componentes, ou é tão somente uma porcada”, diz Castelo, que se apega a um infalível argumento médico-cientifico para embasar seu protesto: “A língua de porco é rica em zinco, ferro, colina e vitamina B12. Esses nutrientes são importantes para o sistema imunológico, função cerebral e ajudam na produção de células vermelhas do sangue. Para as grávidas, a língua de porco é ainda mais benéfica devido aos altos níveis de folato, que podem ajudar a prevenir defeitos fetais. Eu sei, ela contém bastante colesterol, mas não se come feijoada todos os dias “.

Não tem como discordar de Castelo, que faz um alerta: “ Se ninguém se mexer, quem vai acabar deglutindo culturalmente o feijão gordo pátrio serão os forasteiros. E para o nosso só restarão as linguiças da Calábria. Pobres das grávidas sem o seu folato…”.

A criminalização que se torna criminosa

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Colocar o dependente químico no mesmo balaio do traficante, é não querer resolver o problema do tráfico no Brasil. A decisão de ontem no Senado, que certamente será confirmada pela Câmara, é um acinte à sociedade, da mesma forma que foi um acinte a proibição da saidinha, do jeito que foi feito. O que  a maioria dos congressistas, formada pelo centro, centro direita e direita quer? Quer alimentar ainda mais o crime organizado?

A PEC da criminalização da dependência química certamente agravará o problema da superlotação carcerária e fornecerá matéria prima abundante para  as facções criminosas. As cadeias estarão ainda mais lotadas com jovens viciados, que não tiveram chance de ser acolhidos por programas de recuperação. E por outro lado, os sentenciados em fase de progressão de pena vêm suprimidas as suas chances de ressocialização. Invés de apagar as chamas da criminalidade no Brasil, deputados e senadores estão é jogando gasolina.